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DeepSeek: o míssil que furou a bolha especulativa das big techs

DeepSeek: o míssil que furou a bolha especulativa das big techs

A China atingiu o bolso dos bilionários trumpistas, logo na largada, recorrendo ao Capital de Marx

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Humberto Rodrigues

Um ataque militar a todas as sedes físicas da Nasdaq ou a Wall Street, ou a qualquer edifício dos EUA não teria resultado em prejuízos tão grande como foi o lançamento do modelo de IA DeepSeek-R1.

De imediato, o lançamento chinês provocou a maior perda já registrada por uma única empresa em toda história da Bolsa de NY. A empresa mais valorizada do planeta, a Nvidia (NVDA), perdeu U$ 600 bilhões de dólares de valor de mercado. Ato contínuo, a onda de choque financeiro provocou perdas em quase todas as Big Techs que da Nvidia. Todos os bilionários que sentaram na segunda fila da posse de Trump. Em conjunto a perda chegou a 1 trilhão de dólares.

Mas, o prejuízo maior, mais estratégico, mais financeiro, mais geopolítico, foi na moral do governo de Trump, justamente que de fato nasce como testa-de-ferro dos bilionários das big techs, que estão perdendo capital às centenas de bilhões de dólares. Como levar o conjunto da massa trumpista e o ocidente inteiro a acreditarem que é possível fazer a América grande novamente, derrotar a desdolarização do mercado mundial, colocar Rússia, China e Irã em seu lugar se não consegue sequer assegurar a dominância da hegemonia americana no setor de tecnologia, sendo o governo que tem mais bilionários vinculados a esse setor da economia burguesa mundial?

Foi "covardia", de caso pensado no plano econômico e no plano político. A China esperou o melhor momento de publicitar sua inovação, quando as empresas da alta tecnologia burguesa haviam chegado ao seu mais alto valor de mercado, quando a bolha da especulação com a Ia estava mais inchada e vapo! atropelou Donald Trump logo e seus protegidos na largada, logo na segunda semana de vida da nova gestão do sistema imperialsita planetário.

Quatro motivos provocaram o desabamento do capital das Big Techs. 1. O modelo chinês tem performance superior, é mais eficiente; 2. Possui código aberto, ou seja, é gratuito; 3. Utiliza bem menos energia que os modelos de IA das multinacionais Big Techs, e, 4. O principal motivo, o Deepseek foi desenvolvido com um custo infinitamente menor, algo em torno de 3% a 5% do valor da “Open AI” (cujo código é fechado, ou seja, de aberto só tem o nome), o equivalente a menos de US$ 6 bilhões.

Escala de custos do LLM: DeepSeek V3 vs OpenAl 03 (intervalo de 6Mx)

O anúncio chinês atingiu o coração e, o órgão vital, o bolso, dos bilionários estadunidenses, representados e membros do governo Trump, logo na segunda semana do governo. O plano do Projeto 2025 do think thank da extrema direita Fundação Heritage era reconquistar a parte do mundo perdida para os BRICS e restabelecer a hegemonia mundial dos EUA em todos os terrenos recorrendo a sua supremacia na IA. Até então, o plano havia dado certo que as sanções impostas pelos EUA, que impediam o acesso da China aos chips da Nvidia, estabelecido no governo Biden, manteriam por um longo tempo o gigante asiático atrasado na corrida tecnológica.

Mas, a China, assim como fez com os semicondutores, realizou o salto de qualidade, operando por métodos mais baratos e eficazes. Para reverter isso, a China investiu em educação e tecnologia de forma massiva para ter hoje aproximadamente nove vezes mais engenheiros que os EUA e talvez 15 vezes mais graduados em ciência e tecnologia.

Outro elemento está no poder da planificação econômica controlada pelo Partido Comunista Chinês que seguramente estuda à exaustão a crítica da economia política marxista e tenta conter as consequências do mercado e do capitalismo na economia chinesa. Desse modo, barateando o capital constante, a China disparou na frente na revolução tecnológica da IA. Em que pese qualquer crítica à IA, o poderoso contragolpe chinês, recorrendo a uma arma que foi desenvolvida de forma imanente à política de sanções é um contra-ataque antiimperialista e anti-monopolista da tecnologia pelo imperialismo.

Como bem destacou o camarada professor de economia da UFC, Fábio Sobral, que no início dessa semana deu uma entrevista para o canal Emancipação do Trabalho:

"E essa pancada vai se expandir pra outros setores, não tem dúvida. É provável que a bolsa Nasdaq, de alta tecnologia, despenque, porque a China trabalha com a seguinte regra de Marx: reduzir os custos do capital constante. Ou seja, reduzir o preço do maquinário. E ao reduzir o preço do maquinário, a competição entre EUA e China já tá perdida pros EUA, porque, tecnologicamente, a China superou essa disputa.” (Fábio Sobral: Qual a Política Econômica de Donald Trump?)

De fato, a pancada atingiu e vai continuar atingindo, em ondas e com estouros de bolhas de acumulação de capital fictício, vários setores da economia imperialista nos dois lados do Atlântico. Ao reduzir os custos de capital constante de suas empresas, os tecnocratas da China empregam medidas que aprendeu no estudo de Marx. No livro III de O Capital, Marx enumera seis causas contra arrestantes para a lei da queda tendencial da taxa de juros. Uma delas, a terceira, é o barateamento dos elementos do capital constante.

A lei da queda tendencial da taxa de lucros é a mais importante da moderna economia política, segundo Marx. A taxa de lucros é medida pela divisão entre o valor da força de trabalho e o valor dos meios de produção. Nas palavras de Marx, o “crescimento gradual do capital constante em proporção ao capital variável tem necessariamente como resultado uma queda gradual na taxa geral de lucro.” (Marx, 2017, p.250).

A execução consciente de medidas que possibilitaram a redução do capital constante e o fato do Deepseek ser tão mais barato que os modelos imperialistas, inclusive e também no consumo de energia, só são possíveis em um governo em que o Estado controla os capitalistas, não quando um bando de bilionários, como é o caso atual do governo Trump, que possui 11 bilionários, controlam o governo, inclusive à revelia do conjunto da classe burguesa dos EUA, como veremos melhos nas próximas semanas.

Não foi por acaso, que Trump se aproveitou do fato para dar uma lição em seus comparsas. Um Trump um pouco menos imperial do que nos primeiros dias, se afirmou experiente para lidar com o problema da Deepseek: "Nos últimos dias, venho lendo sobre as companhias chinesas. Uma em particular fez um método mais rápido e muito menos caro para lidar com a IA. Isso é bom. Você não precisa gastar tanto dinheiro. Já fiz isso como chefe." (Exame, Resposta de Trump à DeepSeek, relatório da Vale e primeiro dia de Copom: o que move o mercado). O que aponta para reivindicar maiores poderes para si em relação aos demais bilionários, como os apetites quase imparáveis de Elon Musk.

A direita está tentando desesperadamente correr atrás dos múltiplos prejuízos, para conter à corrida mundial aos dowloads do aplicativo gratuito chinês e, mais do que isso, a desmoralização da ofensiva que iria salvar a hegemonia do sistema mundial imperialista sobre o mercado e sobretudo, sobre a revolução tecnológica. Por isso, agora estão derrubando e proibindo o DeepSeek, como fez o governo italiano, disseminando os surrados fakes e preconceitos sinofóbicos e anticomunistas, como o de que a ditadura de Pequim vai roubar os dados dos usuários da IA chinesa, de que a IA censura e não responde perguntas feitas contra o governo do PCCh, ou, de forma ainda mais risível, tentando explicar que o sucesso do aplicativo se deve ao empreendendorismo e ao setor privado chinês.

Os chineses estão desenvolvendo de seu jeito o modo de produção capitalista, o que chamam de “NEP de 1.000 anos”. Mas, sob a herança da revolução de 1949 e graças a hostilidade crescente do imperialismo, colocam uma focinheira na acumulação privada de capital e em seus bilionários, sabem que se não contiverem os custos do capital constante vão entrar em uma crise clássica de sobreacumulação, motivada pela queda tendencial da taxa de lucros, então, eles mantiveram a crise em estágio tendencial e impuseram um tissunami financeiro agora aos EUA quando Trump debutava seu segundo mandato, furando a bolha das big techs.

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