Trabalhadores que entregam comida passam fome
Relatório da Ação da Cidadania feito a partir das entrevistas de 1,7 mil entregadores do Rio de Janeiro e de São Paulo mostra uma situação de extrema precarização.. Isso revela a situação de um dos setores mais fragilizados do proletariado, que é explorado pelas empresas do capitalismo de plataforma.Isso tem que acabar. É preciso denunciar essa situação. Os sindicatos, os movimentos sociais e os partidos de esquerda precisam apoiar as revindicações desse setor da classe trabalhadora.
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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
41,3% dos entregadores de aplicativos de comida já sofreram algum tipo de acidente no exercício da função. Além disso, 32% sofrem algum tipo de insegurança alimentar.
Os dados fazem parte do relatório: “Entregas da Fome: Insegurança Alimentar Domiciliar em trabalhadores de aplicativos de entrega de comida nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro”, produzido pela ONG Ação da Cidadania. A coleta de dados contou com as entrevistas de 1,7 mil entregadores nas duas maiores cidades do país com o objetivo de analisar as condições socioeconômicas dos aplicativos de entrega.
O resultado mostra uma rotina de jornadas exaustivas, insegurança e precariedade., ou seja, superexploração da força de trabalho.
Esse setor do proletariado trabalha quase todos os dias da semana. Quase 60% deles trabalham 7 dias na semana e, também, quase 60% trabalham mais de 9 horas por dia. E tudo isso para ganhar um salário irrisório, enquanto os capitalistas dos APPs lucram muito. A renda familiar é muito baixa, mesmo com a contribuição desse trabalhador. E é uma atividade de altíssimo risco. Mais de 40% dos entregadores sofreram algum acidente durante as entregas.
A esquisa saiu na mesma semana que os entregadores de aplicativos realizaram uma paralisação nacional de dois dias pedindo mais direitos. Os entregadores querem receber uma taxa mínima de R$ 10 por entrega, aumento no valor do quilômetro rodado e limite de três quilômetros de distância para quem usa bicicleta.
A pesquisa revelou que o trabalho como entregadores é a ocupação principal que exercem (91,5%) e fazem entregas todos os dias da semana, sem folgas (56,7%). As famílias têm renda mensal entre 2 e 5 salários mínimos.Questionados sobre acidentes de trabalho, 41,3% revelaram terem sofrido algum tipo de acidente durante o trabalho. A maioria falou sobre acidentes leves, mas 38,8% relataram terem sofrido algum acidente grave que precisou de afastamento do trabalho. Apenas uma minoria contribui para a previdência social (27,8%).
Segundo os dados, 13,5% dos trabalhadores entrevistados no Rio e em São Paulo vivem em insegurança alimentar moderada ou grave – ou seja, enfrentam redução drástica de alimentos ou fome propriamente dita. Mais da metade vive algum grau de insegurança alimentar (fome), e boa parte tem filhos menores em casa. São pessoas negras, jovens, periféricas, que se arriscam diariamente nas ruas das maiores cidades do país para garantir o mínimo – e, mesmo assim, não conseguem garantir nem o básico dentro de casa.
Moral da história no capitalismo: quem entrega comida, passa fome. São trabalhadores que rodam até 10 horas por dia, sete dias por semana, sem direito a férias, proteção social, plano de saúde, ou garantias mínimas. A imensa maioria precisa pagar do próprio bolso por celular, transporte e até mesmo por seguros, quando os têm. A burguesia lucra com a exploração e depois lava as mãos.
No capitalismo de plataforma, ss empresas se dizem intermediárias, mas controlam algoritmos, definem ganhos, impõem metas e punições. Quando se cobra responsabilidade, viram apenas “tecnologia”. E tudo isso sob a ideologia da autonomia, como se o entregador fosse um empreendedor por escolha, e não por falta de alternativa.
A situação ainda é pior para os proletários que usam bicicleta. A pesquisa mostra que os entregadores que usam bicicleta, especialmente os do Rio de Janeiro, são ainda mais oprimidos. Entre os que vivem com até meio salário mínimo per capita, a insegurança alimentar grave passa de 40%. São jovens que passaram pela pandemia sem rede de proteção, expostos ao vírus, ao desemprego e à precarização. Muitos abandonaram os estudos, outros nunca chegaram a ter oportunidades reais. A opressão e exploração no Brasil é estrutural.
Isso tem que acabar. É preciso denunciar essa situação. Os sindicatos, os movimentos sociaís e os partidos de esquerda precisam apoiar as revindicações desse setor da classe trabalhadora.