O ocidente é desnazificável?
Não é o mundo inteiro que, politicamente, está virando à extrema direita. Quem está produzindo esse giro é a maior parte dos países neocolonialistas do ocidente, tanto quanto aqueles outros cães de guarda que estão sob sua esfera de influência. Portanto, em termos gerais, trata-se de uma nazificação do ocidente, que se espalha em efeito cascata.
Leonardo Lima Ribeiro
Isso ocorre na exata proporção da decadência econômico política norteamericanista ( sempre monopolizou o mundo no pós-guerra). Cimenta seu caminho para o abismo, protagonizado pelo capitalismo canibal e autofágico a ele imanente.
O que está expresso para demarcação mais adequada do problema é um forte elemento de erosão histórica ocidental, como se estivesse engessado por formas sociais beligerantes que expressam a conversão do americanismo em intensa anacronia.
Ou seja, diz respeito a um capitalismo de catástrofe que imita medievalmente o processo de esfacelamento do Império Romano (lembro aqui que os nazistas que vieram ao palco em processo semelhante, se autodesignavam como correias de transmissão para reinstauração desses império. Vimos ao fim no que deu, não antes sem grandes catástrofes endógenas ao solo europeu).
Trata-se do começo do fim, ao passo que, por outro lado, as perspectivas de futuro migraram para a Ásia, sob a batuta da China (desconsiderando aqui o caso das sucursais ocidentais). Não custa lembrar que um dos sintomas disso a título de singela ilustração é que finalmente encontraram meios mais eficazes de cura para o câncer, como recentemente o Governo Russo ( sob um prisma geográfico eurasiático) e outros países (Coreia do Sul) anunciaram como medida humanista civilizatória.
Algo que pelas bandas de cá é impossível, porquanto os sistemas de saúde privados em parceria com o estado só pensam em especular com a vida e a morte das pessoas a partir do fluxo de gastos particulares (EUA, sendo o exemplo maior disso. Embora, tenhamos aqui o SUS, sabemos que ainda há um tratamento diferenciado, mesmo quando dele se trata, a partir do seu vínculo ou não com sistema de saúde privado).
Da mesma forma, outra medida civilizatória, agora estritamente chinesa e para além da rota da seda, merece uma atenção especial, a saber: a construção de uma plataforma flutuante de energia solar que produzirá em um ano a mais de energia do que todo o petróleo do planeta.
Sim, esses dois exemplos são claramente elementos humanistas concretos, que apostam no futuro como expectativa histórica objetiva, a qual cria fendas no mar de implosão civilizatória que o imperialismo ocidental vem protagonizando.
No limite, e ao contrário emancipação humana como perspectiva de futuro, talvez chegamos em um momento brumoso e autofágico de fim da história ocidental, tal como a conhecemos. Ficamos presos ao passado como círculo vicioso das mesmas condutas e estruturas objetivas de autorreprodução da vida, que nos deixaram a reboque do imperialismo mencionado. Com elas, toda a estupidez e arrogância do modelo de homem ocidental está em colapso vertical.
Somos passado, e continuaremos a ser até nos afogarmos em ruínas do tempo submersas, enquanto não produzirmos uma clivagem entre tal passado e nós mesmos. Não se trata apenas de nos livrarmos dos paradigmas culturais monopolizados pelo império, enquanto monomania sadomazoquista.
Urge um processo de ressignificação interna do ocidente agrilhoados aos monopólios econômico-políticos e culturais. É necessário um cavalo de pau, uma mudança de perspectiva, para nos tornarmos estrangeiros em nosso próprio território. Engendrar um hiato, forçar a diferença, a desconfiança e o repúdio a tudo aquilo que as potências coloniais sob o comando ianque injetaram como argamassa de nosso inconsciente.
É preciso vomitar esse inconsciente, mirando o reencontro com uma temporalidade futura imanente à fagulhas asiáticas que ecoam a persistência do futuro. Tão longe, tão perto: infinitamente distantes espacialmente, mas infinitamente próximos ontológica e gnosiologicamente. Sem isso, seremos engolidos pelo neofascismo, pulverizados pelos grunhidos do império, o qual antes de ser sepultado cairá atirando.