Boa tarde, meu camarada. Vou começar a responder aquela pergunta. É sobre a política econômica do Trump. Ainda não tinha respondido porque tá tudo muito, muito indefinido. E a indefinição já é uma definição. Ou seja, eles não têm exatamente as medidas a serem adotadas que diferenciem o governo Trump do governo Biden.  

Há algumas variáveis macroeconômicas que a gente precisa observar: inflação, emprego, balança comercial, exportações versus importações, domínio tecnológico, PIB... E aí eu vou analisar cada uma delas.  

Inflação: ele tá entre a cruz e a espada. Se sobe o dólar, os preços ficam mais baixos, mas desmonta parte da estrutura industrial, principalmente a que produz bens de consumo interno – bens duráveis, bens de consumo imediato e até bens intermediários, que são aqueles que servem de matéria-prima ou matéria secundária pra indústria. Então, ele precisa manter os preços baixos. Isso é uma grande preocupação, talvez a maior preocupação, segundo uma matéria que eu vi. A grande preocupação dos americanos são os preços, principalmente dos imóveis.  

37% da renda das camadas trabalhadoras americanas é consumida com moradia. Então, é essencial que ele mantenha isso sob controle. Mas é difícil, muito difícil. Porque o Trump é do setor imobiliário, do setor especulativo imobiliário, e ele precisa de bolhas imobiliárias que movam a construção. Se ele mover a construção civil, ele move o volume de empregos. Só que a construção civil depende essencialmente de mão de obra imigrante.  

Então, ele tá numa contradição: se quer mover o setor imobiliário e ataca a imigração, ele faz subir os preços dos imóveis e provoca uma bolha cativa, que explode rápido, porque não vai ter demanda. Ele tá concentrando essencialmente as políticas de preços na tentativa de baixar o preço dos combustíveis com a exploração – com o lema dele, "Drill, baby, drill", né? Ele tenta baixar os preços do petróleo pra obter junto ao eleitorado uma certa simpatia. É uma aposta no atraso tecnológico diante do avanço gigantesco do setor automobilístico elétrico.  

Eu diria que essa indústria, central pro domínio das corporações americanas no século XX – responsável por muitas guerras imperialistas – ruiu com o avanço da China no setor elétrico. Então, ele lida com uma nova contradição: vai apostar numa tecnologia ultrapassada, mais cara, e que só vai sobreviver se houver grandes barreiras protecionistas contra os produtos elétricos chineses.  

Mas isso é a mesma coisa que o Japão fez em 1600, quando se fechou ao mercado internacional, com o shogunato, o domínio do xogum e da família Tokugawa. De 1600 a 1865, o Japão se fechou e depois foi obrigado a abrir comercialmente, senão teria sido igualmente dominado, como a China foi.  

Aí a gente entra no tema do emprego. O desemprego nos EUA já tá baixo, em torno de 4,4% a 5%. Esse desemprego baixo não vai ser impactado por políticas públicas. Ele vai tender a fazer políticas públicas de protecionismo pra tentar elevar o emprego interno. Só que isso também é contraditório. O desemprego não vai cair mais, porque essa faixa de 4% já é próxima do pleno emprego – bem abaixo dos patamares históricos.  

E o emprego nos setores de baixos salários vai ser impactado porque os imigrantes estão escondidos e vão ser perseguidos. Então, vai haver um colapso em setores como construção civil, serviços básicos de atendimento, limpeza urbana e agricultura.  

Exportações versus importações: o Biden tinha adotado a política de repatriar ou criar setores de multiprocessadores dentro dos EUA, principalmente no Texas, com enormes investimentos públicos. A associação do Trump com as big techs e a presença dos grandes donos dessas empresas indicam que essa parceria vai continuar. Mas a gente acabou de ver uma pancada enorme da China, principalmente no setor de inteligência artificial.  

E essa pancada vai se expandir pra outros setores, não tem dúvida. É provável que a bolsa Nasdaq, de alta tecnologia, despenque, porque a China trabalha com a seguinte regra de Marx: reduzir os custos do capital constante. Ou seja, reduzir o preço do maquinário. E ao reduzir o preço do maquinário, a competição entre EUA e China já tá perdida pros EUA, porque, tecnologicamente, a China superou essa disputa.  

O que ele pode fazer pra um público altamente radicalizado? Criar barreiras e fazer propaganda em torno do protecionismo. Mas esse protecionismo não vai ser efetivo na melhoria das condições de vida das camadas trabalhadoras americanas. Porque ele não vai rebaixar os preços internos de consumo, nem elevar o poder de compra dos salários.  

Isso significa que essas medidas já estão perdidas.  

Bem, então, o PIB pode crescer na medida em que o setor petrolífero se expande. Não tem nenhum elemento que faça reduzir os gastos militares, mas ele vai se desgastar com isso. Inclusive, ele já aprovou a venda de bombas de grande peso pra Israel. Não vai ter mudança nesse patamar.  

Ele tenta se apoiar na imposição de compras militares pela União Europeia. As camadas dirigentes da União Europeia são todas vendidas e corruptas, a ponto de não verem nenhum interesse interno. Elas devem estar sendo pagas em paraísos fiscais e estão no bolso do Trump, na medida em que ele tem essas fichas de desvio de verbas. Então, elas obedecem aos EUA.  

Ele pode elevar essas vendas militares e, com isso, elevar o PIB. Mas isso não vai trazer grande elevação do emprego interno, porque são empregos altamente especializados, e a mão de obra que poderia ser ocupada já tá envolvida nas guerras da Ucrânia, de Israel e no confronto iminente com a China.  

Então, esse é um elemento do PIB que vai crescer, mas, essencialmente, não vai haver redistribuição de renda.  

Ele tinha reunido com as grandes corporações financeiras e de alta tecnologia pra cortar impostos. Isso significa que vai haver ainda mais concentração de renda. E essa concentração de renda vai provocar desânimo e desilusão com o projeto trumpista.  

É isso.