O deputado nacional Leandro Santoro, que tenta uma vaga no Legislativo de Buenos Aires - Alejandro Guyot /La Nacion

Nas últimas eleições provinciais a taxa de abstenção rondou em torno de 40%. Isso, num país onde impera a tradição do voto obrigatório. Também se verifica uma elevada percentagem de votos em branco e nulos, o que acaba por favorecer, em última análise, os órgãos de governo dos estados provinciais. Na Argentina, país com voto fiscal e um elevado grau de abstenção eleitoral e de não, os aparelhos políticos territoriais com capacidade de mobilização eleitoral acabam por ganhar mais peso relativo. 

A extrema direita tende para a direita, mais os votos das duas tendências somados estão muito distantes dos que obtiveram em conjunto em 2023 e que em dezembro desse ano permitiram a vitória a Milei. O peronismo está se desgastando eleitoralmente. Em províncias como Chaco se dividiu entre o setor Cristina Fernández de Kirchner e o Quíntela, o governador da província de La Rioja. O desgaste maior do peronismo é, especialmente em sua variante kirchnerista. Os partidos provinciais estão ganhando, como em Salta. E a UCR está se tornando cada vez mais uma federação de partidos provinciais sem referências nem articulações nacionais.

É nesse mesmo contexto que estão realizadas as eleições de domingo, 18 de maio, na Cidade Autônoma de Buenos Aires, capital federal. Esse distrito é o segundo maior do país. O primeiro depois da província de Buenos Aires, da qual a cidade de Buenos Aires foi separada após a guerra civil do século XIX para declará-la capital federal, impedindo que a própria província de Buenos Aires, dividida em duas, se tornasse tão poderosa.

Nesse distrito da capital federal, que como cidade autônoma combina a unificação dos governos provincial e municipal elegendo sua própria legislatura, se encontra uma vitrine nacional para ver a chance de vitória do peronismo. Existe a possibilidade do peronismo, que, encabeça a lista de candidatos da ala "progressista" da UCR (Leandro Santoro) vencer próximas eleições legislativas em um distrito tradicionalmente adverso ao peronismo.

Essa vitória eleitoral do peronismo seria obtida sobre os candidatos neofascistas de Milei, a mal chamada "Avança a Liberdade", que tem como cabeça de lista Manuel Adorni, porta-voz presidencial, no qual o próprio Milei fez uma forte aposta para vencer as eleições.

Também há candidatos da esquerda, como a Frente de Esquerda dos Trabalhadores e Unidade encabeçada por Viviana Biasi, e setores menores do peronismo como "Princípios e Valores" com a lista para legisladores liderada por Alejandro Kim, os candidatos do governante "Buenos Aires Primeiro" constituído com base no que era o PRO do macrismo , da capital federal com a lista encabeçada por Silvia Lopenato , setores que saíram do oficialismo governante a nível da cidade de Buenos Aires e que hoje estão se voltando para ter um papel mais "moderado" como Larreta liderando "Volvamos Buenos Aires", "Evolución" armado da UCR com Lucille Levy como primeira candidata, por exemplo.

Nessa conjuntura, os resultados eleitorais  estão demonstrando que o desgaste do kirchnerismo se soma ao desgaste da coalizão entre Milei e o macrismo. Em última análise, a luta de classes pode gerar uma reviravolta. Em 2023, uma coalizão entre a direita e a extrema direita venceu as eleições devido ao desgaste  do kirchnerismo. Hoje,  abre-se a perspectiva de que na Capital Federal (cidade de Buenos Aires), do distrito que ser destaque nacional, tanto a direita quanto a extrema direita poderão ser derrotadas, onde, no passado,  seus candidatos tiveram forte apoio público centrado na demagogia de Milei.

Uma derrota eleitoral do grupo de Milei na Capital Federal será um golpe para o próprio governo de Milei. Com o apoio do FMI, por meio de seus empréstimos, Milei vem comprando uma "trégua" nas variáveis econômicas para chegar nas melhores condições possíveis às eleições nacionais de meio de mandato em outubro. Com isso, o próprio FMI passa a ser um participante ativo na campanha de Milei, demonstrando o que significaria para o governo neofascista, uma construção prioritariamente midiática e virtual, uma derrota em seu próprio primeiro pleito eleitoral em nível nacional.

É por isso que, com o objetivo de colocar o maior número possível de obstáculos ao governo Milei, inclusive em termos estritamente eleitorais, nos pronunciamos a favor de um voto crítico na organização "Ahora Buenos Aires" encabeçada por Leandro Santoro em vista das próximas eleições da legislatura da cidade autônoma de Buenos Aires, em 18 de maio.