Português (Brasil)

Alemanha: social-democratas e verdes são punidos por sua vassalagem aos EUA

Alemanha: social-democratas e verdes são punidos por sua vassalagem aos EUA

A juventude está se movendo para a esquerda, pois o SPD e os Verdes são odiados como partidos da guerra na Ucrânia e do genocídio em Gaza. O voto combinado do Linke e do BSW (Aliança Sahra Wagenknecht) foi quase 15%, apenas 1% menos do que o SPD e quase o dobro da votação dos Verdes. As massivas manifestações iniciadas em defesa da palestina, proibidas pelo governo pró-sionista de Berlim, tiveram continuidade então nas atuais massivas maniestações anti-nazistas, contra o AfD.

Compartilhe este conteúdo:

 

Nas eleições para a Assembléia Federal alemã, o Bundestag, saiu vitoriosa a coalização de direita composta pelos partidos União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), elegeu 208 parlamentares, obtendo 14.158,432 de votos (28.52%). O CDU é o mais antigo partido da tradicional direita conservadora alemã, foi dirigido por Angela Merkel e agora o é por Friedrich Merz.

O partido neonazista Alternativa para a Alemanha (AfD), elegeu 152 parlamentares, por obter 10,327,148 de votos (20.8%). Foi a maior votação para um partido nazista depois da Segunda Guerra Mundial. O AfD tornou-se a segunda força política no Parlamento.

Também foi uma das maiores derrotas para um partido governante nesse período, os social-democratas do SPD do atual chanceler (chefe de governo) Olaf Scholz, obtiveram 120 cadeiras, obtendo meros 8.148,284 votos (16.41%). 

 

 

O Die Link, não é uma alternativa consequente para superar o SPD

Não foram apenas os neonazistas que cresceram, também um partido-frente que está à esquerda do SPD, o Die Linke, ou Linkspartei, ou a Esquerda, é uma coalizão de comunistas e sociais democratas de esquerda, dirigidos por Heidi Reichinnek e Jan van Aken, obteve uma 64 assentos no Bundestag, conquistando 4.355,382 votos (8.77%). Foi uma das maiores votações desse partido fundado fundado em 2007, a partir da fusão do Partido do Socialismo Democrático (PDS) — sucessor do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED), que governou a antiga Alemanha Oriental, nos quarenta anos em que esta existiu — e da Alternativa Eleitoral para o Trabalho e a Justiça Social (WASG),  uma ruptura do SPD de 2005, dirigida por Oskar Lafontaine. O Linke possui ainda como tendências internas a A Esquerda Anticapitalista (Antikapitalistische Linke), a Plataforma Comunista (Kommunistische Plattform, KPF), o Fórum do Socialismo Democrático (Forum demokratischer Sozialismus), a Esquerda Socialista (Sozialistische Linke), o Linksruck (agora conhecido como Marx21). Outros grupos, como o Partido Comunista e o Partido Marxista-Leninista da Alemanha, formaram eventualmente alianças locais com Die Linke. A forte repressão política alemã, realizada pelo Escritório Federal Alemão para a Proteção da Constituição (Bundesamt für Verfassungsschutz) monitora os grupos de esquerda do Linke.

CDU ganhou em Berlim, mas o Die Linke também teve uma votação extraordinária na capital.

O Linkspartei e suas tendências impulsionaram as maniestações pró-palestina e agora as manifestações anti-Afd, todavia, provavelmente, não capitalizou mais o descontentamento do proletariado alemão com as políticas subalternas do SPD porque capitula ao imperialismo na guerra da Ucrânia apoiando declaradamente ao governo ucronazi de Kiev e a diplomacia da OTAN, em nome de "uma paz justa".

"apoiamos o povo da Ucrânia, que tem direito à autodefesa. A Rússia deve retirar suas tropas da Ucrânia. Estamos comprometidos com mais ajuda humanitária, bem como iniciativas diplomáticas para um cessar-fogo e uma paz justa. A ESQUERDA condena a guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia. O ataque viola claramente o direito internacional e significa sofrimento sem fim para as pessoas da região. Nossa solidariedade vai para as pessoas na Ucrânia cujas vidas estão ameaçadas." (Ukrainekrieg: Für einen gerechten Frieden in der Ukraine / Guerra da Ucrânia: Por uma Paz Justa na Ucrânia). 

 

A profunda crise econômioca e política alemã

Há poucos meses, esse site antecipou que a crise econômica desencadeou a insolúvel crise política que agora resultou na derrota histórica do SPD.

A causa principal da crise política e econômica na maior economia da zona do Euro está na vassalagem do governo alemão para com os EUA, o que obrigou o país a comprar gás bem mais caro que o fornecido pela Rússia e aumentar seus gastos militares para 2,5% do PIB, em virtude da guerra na Ucrânia provocada pela OTAN.

A Alemanha é ocupada militarmente desde o final da Segunda Guerra pelos EUA (cerca de 50 mil militares e 17 mil civis do departamento de defesa dos EUA). O que faz do país que é potência imperialista no campo da economia, sob ocupação militar estrangeira. De certo modo, a política da Alemanha é determinada pelos interesses dos EUA, sobretudo depois da unificação das Alemanhas. O atual chanceler social-democrata Olaf Scholz é ainda mais obediente do que era Angela Merkel (do partido CDU). A Rússia fornecia gás barato para a Alemanha. As famílias e a produção dependiam do gás russo. Agora dependem do gás bem mais caro, não mais enviado por gasodutos, mas por navios, fornecido por vários países dos sistema imperialista. Para o custo de vida não ficar muito caro, o Estado subsidia o gás das residências e empresas e nacionalizou as filiais da empresa estatal russa Gazprom e da finlandesa Uniper. Ao subsidiar o gás, o Estado alemão se hiperendividou. Desde 2009 havia um limite constitucional para esse endividamento, agora há praticamente um consenso entre os partidos alemães para acabar com esse limite. Essa nova situação derivada da guerra provocada pela OTAN contra a Rússia, começa a comprometer a condição de potência econômica da Alemanha.

Por ironia da história, a Alemanha que, através da troika, impôs a austeridade monetária e econômica férrea sobre todos os países oprimidos da Europa, agora anuncia o fim da política de limite de endividamento para si e abandona a disciplina fiscal, até então, uma cláusula pétrea de sua doutrina neoliberal...

A regra da dívida foi uma das principais razões pelas quais a coligação de três partidos do chanceler Olaf Scholz entrou em colapso no início deste mês.
O social-democrata Scholz pediu ao seu ministro das Finanças, Christian Lindner, líder do partido FDP, fiscalmente agressivo, que suspendesse o freio à dívida para permitir mais ajuda à Ucrânia. Este último recusou e foi mandado embora. O FDP então deixou o governo. (Emancipação do Trabalho: 
Alemanha, em crise, governo abandona a "disciplina fiscal" e libera seu autoendividamento).

Ativistas antifascistas realizaram protestos em várias cidades alemãs. O governo alemão e seu aparato repressivo perseguem os antifas e protegem as manifestações neonazistas

 

Os neonazis do Afd, pró-sionitas e apoiados pelo governo Trump

Os neonazis, venceram exatamente no que era a antiga Alemanha Oriental, como partido de oposição às políticas pro-EUA da social democracia, a disparada da inflação provocada sobretuddo pelo aumento dos combustíveis, as políticas neoliberais, contra a guerra na Ucrânia. Foi um voto de protesto reacionário, que deslocou a raiva social contra os imigrantes. Detalhe, os neonazistas da afd têm como dirigente um imigrado turco.

A diferença do nazifascismo, constituído antes de Israel ser imposto sobre a Palestina e se converter em um Estado imperialista, hoje os neonazistas do sistema imperialista ocidental, de Trump a Bolsonaro, do EDL britânico ao AFD alemão são pró-Israel, islamofóbicos e, em geral xenófobos contra os imigrantes oriundos dos países oprimidos. Os partidos fascistas são partidos burgueses especiais, encubidos de certas tarefas conjunturais do grade capital internacional (Musk!) e imperialista contra a classe trabalhadora, servem para dividí-la usando os setores mais oprimidos e os comunistas como bode expiatório para a crise social criada pelo próprio capital.

Não basta que sejam politicamente de direita ou extrema-direita, os partidos fascistas precisam ter influência de massas sobre suas vítimas para poderem serem funcionais ao grande capital em certas conjunturas de crise, como a atual. Por isso, não deve causar estranheza que frações do proletariado sejam massivamente recrutados contra a grande massa do proletariado. Não deve causar estranheza, por exemplo, que trabalhadores imigrantes que conseguiram uma frágil cidanania nos EUA ou Alemanha votem nos partidos fascistas contra imigrantes mais novos, temendo perder empregos ou com ressentimento contra os programas sociais que os setores mais fragilizados recebem. No caso alemão, há um ingrediente de confusão a mais, a Guerra na Ucrânia e a quebra da Alemanha por se arruinar vendo combustíveis e preços gerais dispararem sob a política vassala do governo social-democrata de Olaf Scholz:

Nascido na Turquia, Ismet Var, de 55 anos, vive no país desde sua infância e adquiriu a cidadania alemã em 1994. Ele apoia a AfD desde sua fundação, em 2013. O entregador de Berlim teve seu trabalho diretamente afetado pelo aumento dos preços dos combustíveis após a invasão da Rússia na Ucrânia em 2022. Var não consegue entender por que tanto dinheiro está sendo "jogado fora" em ajuda econômica e militar para a Ucrânia. Ele deseja corte de impostos e a deportação de "imigrantes criminosos" (DW: Quem são os imigrantes que votam na ultradireita alemã? 17 de fevereiro de 2025, AfD não esconde desejo de deportações em massa, mas mesmo assim conquista eleitores entre alemães naturalizados e filhos de imigrantes).

Mas, com 20% dos votos os neonazis alemães ainda estão aquem da influência que possuem seus correligionários estadunidenses e brasileiros. Em certa medida, têm sido inflados pela grande mídia em geral, pelas redes sociais e big techs que estão no governo dos EUA e por truques de IA para fabricar imagens de que são maiores do que de fato são.

 

Limites e perspectivas dos resultados 

O Partido Verde russofóbico e anti-operário perdeu eleitores para o Partido de Esquerda, Die Linke. O voto combinado do Linke e do BSW (Aliança Sahra Wagenknecht) foi quase 15%, apenas 1% menos do que o SPD e quase o dobro da votação dos Verdes.

A Aliança Sahra Wagenknechtde é uma ruptura do Linke que tratou de capitalizar pela direita e pela esquerda o giro da sociedade alemã contra as políticas da colizão SPD/Verdes. Pela direita, com políticas mais xenófobas do que as do governo federal alemão. Pela esquerda, se opondo a ajuda financeira e militar alemã contra a Rússia:

O BSW é o único partido representado no Bundestag que rejeita claramente o envio de soldados alemães para a Ucrânia. A Ucrânia precisa de garantias de segurança, mas os soldados da OTAN não seriam mantenedores da paz no caso de um cessar-fogo frágil, mas poderiam arrastar a Alemanha para uma guerra devastadora com a potência nuclear Rússia se os combates recomeçassem (Wagenknecht: Ukraine braucht Sicherheitsgarantien, aber keine NATO-Soldaten, Pressemitteilungen: 18. Februar 2025 / Wagenknecht: Ucrânia precisa de garantias de segurança, mas não de soldados da NATO, comunicados de imprensa18 de fevereiro de 2025).

O grande derrotado, e merecidamente derrotado, foi o SPD. Os partidos AfD e de esquerda ganharam às custas da coligação SPD/Verde no poder. Uma parte dos imigrantes com direitos políticos votou na esquerda. A juventude está se movendo para a esquerda, pois o SPD e os Verdes são odiados como partidos da guerra na Ucrânia e do genocídio em Gaza. As massivas manifestações iniciadas em defesa da palestina, proibidas pelo governo pró-sionista de Berlim, tiveram continuidade então nas atuais massivas maniestações anti-nazistas, contra o AfD e seu patrocinador, cuja fortuna foi construída no apartheid, Elon Musk e que agora é turbinada por seu poder no governo Trump.

O futuro governo da CDU/CSU não tem nada de bom para sequer aliviar a profunda crise política e econômica do país, destruído pelo imperialismo estadunidense. Se se aliar a Trump, continuará a ser subjugado e vampirizado, se der continuidade a guerra na Ucrânia, continuará arruinando a economia do país em uma guerra perdida, comprando combustível caro. A crise política do sistema imperialista ocidental que tem na Alemanha um das pontas fundamentais do tripé no continente europeu, gera contradições que põem em movimento os trabalhadores e jovens comunistas, que devem ser exploradas para a construção de um novo movimento revolucionário na pátria de Marx.

Compartilhe este conteúdo:
  Veja Mais
Exibindo de 1 a 9 resultados (total: 175)

 contato@emancipacaodotrabalho.org
Junte-se a nós!