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Europa: o que a Esquerda italiana tem a ensinar

Europa: o que a Esquerda italiana tem a ensinar

Seja na Europa, seja na América Latina, os trabalhadores estão dispostos a se organizar em torno de um projeto que os anime. No entanto, a história recente ensinou que, se a esquerda não estiver disposta a assumir essa responsabilidade, a direita o fará. Os trabalhadores italianos nos ensinaram que não é tarde para o campo progressista assumir esse papel, apenas foi necessário a clareza de reconhecer que os opressores dos operários do Mediterrâneo não estão em Moscou.

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Cesar L. Rocha, correspondente de Emancipação do Trabalho na França

 

O campo popular na Itália sempre chamou bastante atenção, principalmente quando nos damos conta que se trata de um país no seio da Europa Ocidental. Isso não se deve apenas ao seu histórico de resistência armada ao fascismo e posteriormente ao próprio capitalismo, mas também à própria defesa de pautas realmente relevantes à classe trabalhadora.

Nesse contexto, é fundamental falarmos sobre os recentes protestos contra o rearmamento do país, o que nada mais é do que um movimento encabeçado pela União Europeia para intimidar a Federação Russa. Tais manifestações ocorridas no começo do mês, foram convocadas pelo Movimento Cinco Estrelas (M5S) – um movimento popular que se opõe ao governo Meloni – e contaram com a participação de milhares de jovens e trabalhadores italianos, que gritavam palavras de ordem contra o gasto de recursos que poderia ser direcionado aos serviços públicos italianos.

Apesar de o M5S ter um posicionamento burguês profundamente crítico aos sindicatos e simpático à conciliação de classe, além de se mostrar um movimento profundamente xenófobo em diversos aspectos, a manifestação em questão representa um avanço do interesse popular italiano, e ainda destoa até mesmo de outros movimentos da esquerda nacionalista na Europa Ocidental, como o partido França Insubmissa, visto que claras mensagens de aberto repúdio à guerra na Ucrânia têm sido transmitidas com cada vez maior frequência pela classe operária nacional. Frases como “o povo russo não é meu inimigo” vêm se tornando cada vez mais comuns no repertório dos trabalhadores de Roma.

Diante disso, fica a pergunta: porque nossos camaradas do mediterrâneo conseguem levar uma luta organizada contra as peripécias da burguesia europeia, enquanto no Brasil, o debate se encontra tão rebaixado e eleitoreiro? Será que não conseguiremos transcender os debates identitários importados dos EUA e permitir à esquerda reganhar as ruas? Ainda mais sabendo que nós também temos um orgulhoso histórico de luta armada, gigantescas greves sindicais e a própria fundação dos BRICS nas nossas costas.

Seja na Europa, seja na América Latina, os trabalhadores estão dispostos a se organizar em torno de um projeto que os anime. No entanto, a história recente ensinou que, se a esquerda não estiver disposta a assumir essa responsabilidade, a direita o fará. Por outro lado, os trabalhadores italianos nos ensinaram uma vez mais que não é tarde para o campo progressista assumir esse papel, apenas foi necessário a clareza de reconhecer que os opressores dos operários do Mediterrâneo não estão em Moscou, senão em Roma e em Bruxelas. Cabe à agora à esquerda brasileira admitir onde estão os nossos opressores.

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