Alemanha: O que fará a esquerda diante da desmoralização do regime?
Esse cenário escancara o total fracasso da política submissa de Olaf Scholz, e do SPD, em relação aos interesses estadunidenses. Naturalmente, sancionar a Rússia só pode ser visto como algo totalmente irracional para a Alemanha, cuja competitividade dependia do gás barato provindo da Federação Russa. Resultado: desemprego, inflação e desindustrialização. Ora, quem diria! Evidentemente, no entanto, que decisões como essa não são tomadas em Berlin, mas sim em Washinton.
César L. Rocha - França
"Paz, liberdade e democracia!" e "Tirem as mãos das nossas crianças" são os dizeres de alguns dos cartazes de uma manifestação da AfD. Demonstram a insatisfação com o SPD e que a direita capturou esse sentimento com sua demagogia contra a guerra e pautas morais.
Recentemente, ocorreram as eleições para o parlamento alemão. Na ocasião, a direita obteve uma vitória esmagadora, particularmente sobre os sociais-democratas, os quais lideram o governo atual. A União Democrática Cristã (CDU), partido de Angela Merkel, teve a maior porcentagem de votos. Ademais, o partido da extrema direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), foi o segundo mais votado, superando significativamente a porcentagem do próprio partido Social-Democrata (SPD).
Esse cenário escancara o total fracasso da política submissa do futuro ex “líder” da maior economia da Europa Olaf Scholz, e de seu partido, em relação aos interesses estadunidenses. Naturalmente, sancionar a Rússia só pode ser visto como algo totalmente irracional para a Alemanha, cuja competitividade dependia fortemente do gás barato provindo da Federação Russa. Agora, essa carência é suprida, em partes, pelo gás de xisto norte-americano, o qual é muito mais caro e poluente que o fornecedor anterior. O resultado: desemprego, inflação e desindustrialização. Ora, quem diria! Evidentemente, no entanto, que decisões como essa não são tomadas em Berlin, mas sim em Washinton.
Diante disso, fica a pergunta: a troco de que a Alemanha sacrificou seu presente e futuro? O que justifica uma nação que esbanjava com orgulho o título de locomotiva da Europa se rebaixar a esse nível? Só existe uma explicação: estamos diante de uma clara “prostituição política”. Entretanto, não trata de uma troca de favores escusos por baixo dos panos, senão de uma manifestação da condição de total subserviência dessa nação em relação aos EUA.
O ponto mais dramático – e irônico – dessa história, é que toda essa submissão, simplesmente não foi nem sequer reconhecida pela Casa Branca, visto o descaso que a administração Trump tem lidado com seus aliados, a Europa inclusa. Scholz, portanto, “arriou as calças” do próprio país para os interesses ianques em detrimento do próprio mandato, apenas para terminar sendo tratado como um aliado de terceira categoria.
Essa situação certamente é desorientadora para os dirigentes de Berlin. No entanto, vale especular como isso pode evoluir, em particular no que diz respeito ao comportamento dos partidos políticos mais relevantes e a percepção pública da situação. Provavelmente, o governo encabeçado pelo CDU deve se aliar ainda mais com o “israel” para tentar se reaproximar da administração Trump, uma mudança no trato com relação à situação na Ucrânia, ainda parece improvável. A AfD, por sua vez, deve seguir com suas críticas às sanções contra a Federação Russa e se aliar ao máximo com o regime sionista, na tentativa de ganhar a confiança do mandatário de Washinton – lembrando que Elon Musk, já tem relações estreitas com o partido – . O SPD, deve continuar com a sua atuação medíocre, principalmente se de fato eles concretizarem a coalizão com o CDU.
Falta saber qual será o papel da esquerda nesse processo. Com relação ao partido de centro-esquerda mais votado, o Die Linke, podemos esperar uma oposição ao governo que venha a se formar. Caso haja traquejo o suficiente, seria um bom momento para mobilizar a sociedade alemã contra a ocupação americana no país e as reformas neoliberais impostas por praticamente todos os chanceleres (chefes de governo) que Berlin teve nos últimos anos.
Ainda no campo da esquerda, falta falar sobre o tão polêmico BSW (Aliança Sahra Wagenknecht), o qual é uma dissidência do Die Linke fundado em 2023. As declarações de sua líder, Sahra Wagenknecht, anti-imigração e anti-identitárias a afastam da esquerda alemã. Não obstante, ela teve posições firmes contra o fortalecimento de monopólios estrangeiros em seu país e contra as sanções à Rússia, o que dão um contorno bastante complexo a esse partido. É importante notar que tal movimento obteve 4,9% dos votos, o que não é suficiente para enviar representantes ao parlamento, mas chega bastante próximo (é necessário ao menos 5%). Isso posto, seu movimento pode ter uma atuação bastante fraca até a próxima eleição, ou eles podem seguir com o trabalho que os permitiu crescer significativamente inclusive nos territórios correspondentes à antiga Alemanha Oriental, no qual a AfD domina e não tem concorrentes à esquerda tão significativos.
Dito isso, a crise está posta, a direita conseguiu angariar a insatisfação popular nesse momento. No entanto, cabe ao Die Linke e ao BSW tomarem uma postura política que corresponda à vontade do povo alemão. Caso Die Linke continue convergindo para a direita e tente justificar seu nome apenas pela defesa que pautas identitárias, assim como aconteceu com diversos partidos ditos progressistas na Europa, pois veremos um grande desperdício do momento histórico que vive hoje um dos epicentros do capitalismo. Já no caso do BSW, se não houver prosseguimento do trabalho feito para capitanear votos no Leste e a continuação de uma economia desenvolvimentista, sem dúvidas ele não passará no final das contas de um movimento vazio que em nada haverá agregado de concreto para a Alemanha.
Para usar uma expressão que Trump aparenta gostar para ameaçar seus aliados: a esquerda tem as cartas, vamos ver como ela lidará com isso.

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